Do Norte ao Sul: como professores da rede Inspira estão adaptando o ensino durante a pandemia do coronavírus

Luiza Braga
8 min readSep 25, 2020

O fechamento de escolas devido às medidas de isolamento social atingiu 91% dos estudantes em todo o mundo. No Brasil, foram 52,8 milhões de alunos afetados, da educação infantil ao ensino superior. Isso é o que revela o relatório divulgado pela Unesco.

Fechar temporariamente as escolas, além de proteger crianças e jovens, reduz as chances de que eles se tornem vetores do vírus para sua família e comunidade. Diante desse cenário, grande parte do processo de aprendizagem precisou ser ajustado e foi necessária uma grande dedicação para tornar o ensino remoto o melhor possível para os alunos.

Sendo o Brasil um país tão grande e diverso, diferentes desafios são enfrentados em cada uma das regiões. Desse modo, é fundamental a compreensão da situação vigente em cada canto do nosso país e quais as soluções estão sendo implementadas. Nós, da Eduqo, acreditamos que trabalhos de excelência na educação devem ser compartilhados!

Por isso, conversamos com Hugo Pena, professor de matemática do Colégio Physics de Belém no Pará e Jaqueline Luz, professora de inglês do Colégio Top Gun de São José do Pinhais no Paraná, para descobrir mais sobre como está sendo essa adaptação nas escolas que fazem parte da rede de ensino Inspira nas regiões Norte e Sul do nosso país.

[EDUQO] Hugo e Jaqueline, sabemos que não é nada fácil mudar tão drasticamente a forma que trabalhamos. Para vocês quais foram os maiores desafios enfrentados durante a adequação do ensino presencial para o online na região Norte e Sul?

Hugo: Eu tive uma certa vantagem, sendo muito sincero, porque eu já tinha experiência com ensino mediado por tecnologias, como dar aula para uma câmera sem visualizar o aluno. Mesmo assim, foi muito impactante mudar totalmente a nossa rotina.

A gente tem um padrão que é chegar na escola, pegar o livro, acompanhar com o aluno; ter que adaptar o planejamento a essa nova modalidade é um desafio e tanto. Como professor de matemática, trabalho de maneira direta com o aluno, acompanhando o que ele fez.

Nessa mudança do presencial para o online senti falta de poder visualizar o que meu aluno faz, eu até brinco com eles: quando a gente está em sala de aula eu olho para o rosto de vocês e sei quando vocês estão entendendo ou não. Se não tiver feedback e diálogo fica inviável nessa modalidade. É claro que a gente vai buscando as alternativas pra isso.

Jaqueline: Pra mim o maior desafio foi me adaptar ao novo, sou professora desde 2006 e eu nunca dei aula online. Então a gente teve que se reinventar e aprender a lidar com toda tecnologia, já mexemos com notebook, celular… mas não é a mesma coisa que você preparar aula e colocar conteúdo.

[EDUQO] Atuando na região Norte e Sul neste momento de pandemia, o que vocês sentiram dos outros professores, da infraestrutura, do ambiente escolar?

Jaqueline: O que eu vi e mais vejo nos meus colegas é a dificuldade em mexer com as ferramentas e problemas de acesso à internet. Tem aluno, por exemplo, que não tem acesso a internet, porque neste período de isolamento os pais estão trabalhando na área da saúde e o estudante está longe da cidade.

Hugo: No Sul não foi muito diferente daqui do Norte.

Eu não esqueço do dia que a gente entrou em quarentena, era uma terça, eu fui deixar minhas filhas na escola e, é engraçado que, teria uma prova de matemática no dia seguinte e um aluno chegou pra mim dizendo “Professor, professor, não vai ter sua prova amanhã, porque…” aí eu pedi pra ele se acalmar e disse que teria sim. Então, a pessoa que estava na portaria só fez um sinal negativo pra mim com a cabeça. Pra mim foi muito marcante esse momento.

Os professores como um todo começaram a pesquisar e a compartilhar ferramentas para dar apoio à escola. Foi criado um grupo de whatsapp, onde todos começaram a se articular e compartilhar experiências.

‘’Para mim foi muito difícil não ter um quadro para escrever. Nós não estávamos preparados para isso, mesmo cientes de que era o curso normal por conta de todos os avanços tecnológicos que já existem. A pandemia veio na marra e jogou a gente nesse meio, nos forçando a se adaptar de uma hora pra outra. ‘’

[EDUQO] Não ter um lugar próprio, como a sala de aula, é um desafio para os alunos e professores. Quais são as estratégias e ferramentas adotadas perante o quadro atual?

Hugo: ‘’No início, usamos programas de projeção, mas matemática é muito difícil ensinar sem escrever, então busquei ferramentas que simulassem um quadro. Depois comecei a buscar outros artifícios como jogos online, adaptando realmente a sala de aula para o aluno interagir bastante mesmo no online.’’

Jaqueline: Todo o material que utilizo está no meu notebook, mas também aproveito para utilizar outros vídeos, músicas e fantoches. Como sou professora do Ensino Infantil e Ensino Fundamental 1, as vezes é necessário usar uma fantasia, levar elementos visuais para contar histórias…

A minha sala de aula, por exemplo, era toda do Mickey por remeter ao inglês, então o que eu fiz foi adaptar todo cenário da minha casa para os alunos se identificassem e reconhecessem mais o ambiente.

[EDUQO] Com as aulas remotas ficou mais difícil conseguir prender a atenção dos alunos na matéria que está sendo lecionada. Como vocês conseguem engajar os alunos e fazer com que eles acessem os materiais?

Jaqueline: Interagir com os alunos através do material da própria aula e já falar um pouco sobre a próxima, estimula eles a quererem participar. Na educação infantil, quando eu vou ensinar, por exemplo, as partes dos robôs, aproveitei para fazer um robô com os alunos usando os materiais que eles possuem em casa e toda comunicação durante a aula foi feita ‘’pelo robô’’.

Já no ensino fundamental 1, os alunos que já participavam, se mantiveram ativos. Aqueles que não tinham muito interesse passaram a ter justamente pela necessidade e empolgação de ter que mexer no computador.

Hugo: Também tem uma outra situação: o fato do aluno não estar encarando diretamente o professor e o colega faz ele perder um pouco do bloqueio que tinha , faz ele parar de se sentir intimidado. Notei alunos que não participavam presencialmente começando a mudar.

Muitas pessoas criticam e inclusive na internet dizendo: “Ah, essa modalidade não funciona”. Sei que essa medida é paliativa, mas ela dá certo sim. Eu sei disso pelo rendimento dos meus alunos, nos mesmos tópicos as dúvidas são as mesmas. Já aconteceu até de eu falar uma palavra que um aluno não entendeu, outro já ir pesquisando o significado e enviando no chat. A gente tem que começar a pensar em quando voltarmos ao presencial, como vamos manter esses pontos positivos no presencial.

[EDUQO] Quais foram as novas práticas implementadas que vocês pretendem continuar utilizando quando o ensino retornar ao presencial?

Hugo: Precisamos colocar em prática todos esses recursos tecnológicos. Transformar em rotina.

Começamos a utilizar a plataforma da Eduqo, o qmagico, no início deste ano e eu até cheguei a conversar com as coordenadoras. Elas falaram “Olha Hugo, como você gosta disso, dá uma olhada para conhecer e compartilhar com os colegas.” Isso foi duas semanas antes do estouro da pandemia, logo depois todo mundo foi forçado a se ambientar na plataforma.

Isso fez a gente aprender rápido e ver as vantagens na prática. Podemos ter resultados imediatos para os alunos, e isso nos motiva a explorar cada vez mais esses recursos.

Jaqueline: Acredito que a gente vai continuar utilizando o A+ Digital para desenvolver atividades com alunos, não só em sala de aula, mas também enviando ‘homework’ (tarefa de casa), por exemplo. Outro ponto importante, é a necessidade de chamar as famílias para que elas fiquem mais próximas. Durante as aulas, eu até convido os familiares para participarem.

[EDUQO] Como se deu o processo de implementação dessas iniciativas e qual foi o papel da rede Inspira nessas ações?

Jaqueline: Aqui no colégio, tivemos treinamentos, reuniões…fomos aprendendo, juntos, a criar novas formas de ensino à distância para os pequenos.

‘’Acertando juntos e errando juntos, acho que agora encontramos o caminho’’

Hugo: Isso que a Jaqueline falou eu acho que significa esse novo modelo de educação durante a pandemia: a aprendizagem cooperativa.

Todo mundo teve que aprender: o pedagógico, os professores e acredito que até o suporte de vocês, porque existia uma arquitetura para uma outra modalidade. Realmente, ninguém soltou a mão de ninguém. A estrutura da parceria da Inspira com Eduqo funcionou.

Comparando aqui em Belém, o Physics foi uma das escolas comentadas como a que mais chegou rápido ao ideal dessa modalidade. Chegamos até a receber mais alunos.

[EUDQO] Sabemos que a rotina de todos mudou bastante na pandemia, principalmente dos professores, como está sendo o dia de trabalho de vocês no contexto da região que vocês vivem?

Jaqueline: Eu tenho aula pela manhã e à tarde. É bastante trabalho, até porque a gente não faz só a aula. É preciso preparar materiais, provinhas… Como eu amo o que eu faço, não vejo como um problema, enxergo como uma forma de atingir meus objetivos como professora.

Às vezes é sair de uma aula que estou fazendo um piquenique e já vou me preparar para uma outra aula que eu preciso confeccionar um material para os pequenininhos. Então você precisa ir se adaptando conforme a turma.

Hugo: Algo que eu ouvia muito e me chateava é “Com a pandemia os professores trabalham menos de casa.” Eu acredito que com todos os relatos que eu ouvi a gente trabalha o dobro, porque precisamos preparar as aulas nos mínimos detalhes.

Concordo com a professora, ser professor é para quem gosta, não para quem quer. É desafiador, cansativo, a rotina mudou completamente… Uma estratégia que a gente usou foi o trabalho cooperativo até na confecção dos materiais, os professores intercalam quem vai produzir os conteúdos.

[EDUQO] Qual o sonho de vocês para educação do Brasil?

Hugo: Mesmo sabendo de todos os problemas que existem na educação, o sonho de que um dia a educação tenha seu valor reconhecido continua.

Um dos pontos positivos da pandemia foi essa aproximação da família, todo esse contexto gerou um reconhecimento maior, mas ele ainda precisa de mais atenção, até porque é a única forma que se tem de progredir. A gente pode perceber que os países que estão lidando melhor com os impactos da pandemia na educação, são aqueles que reconhecem o potencial da educação e valorizam o esforço dos educadores.

Jaqueline: ‘’Meu sonho em relação a educação é que todos tenham acesso a uma boa escola, recursos, e que os professores sejam valorizados. Nós buscamos dar o exemplo para que mais crianças queiram ser professores, porque é uma das profissões mais lindas do mundo. A gente tem o poder de mudar vidas, falo isso de coração.’’

Nós, da Eduqo, agradecemos a parceria e dedicação de professores como o Hugo e a Jaqueline que estão transformando o ensinar para que seus alunos se apaixonem pelo aprender.

Vamos juntos melhorar a educação do Norte ao Sul do Brasil.

--

--

Luiza Braga

Comunicadora e professora apaixonada, analista de Marketing de formação e curiosa pelo mundo.